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A RELIGIOSIDADE E A AUSÊNCIA DA LIBERDADE

Texto de 2020

 
Nos últimos dias acompanhei dois filmes que me fizeram pensar sobre o controla violência, da divulgação da informação que este tipo de poder representa. O primeiro filme foi o “Assassination Nation” (EUA, 2018), dirigido por Sam Levison, o segundo, o filme adaptado “The Hadmaid’s Tale” (EUA, 1990). Este último é adaptação do livro de Margaret Atwood, 1985, e da série de mesmo nome, que está no ar desde de 2017, aqui no Brasil é vista pelo Paramount Channel. São dois filmes diferentes, mas que encontram no controle sobre a violência uma intersecção.

“Assassination Nation” conta a história de quatro adolescentes da pequena cidade de Salem, em Massachusetts. Elas se tornam o foco de atenção da mídia depois que informações pessoais de vários munícipes são divulgadas por um hacker anônimo. O ataque desperta uma onda de violência aceitável socialmente. Novamente, Salem, caças suas bruxas, como se o pecado estivesse nas bruxas.  Antes disso, há todo um conjunto violento invisibilizado pela moral da família tradicional e do puritanismo religioso. O tom está na sexualização da nudez, mas também, há o machismo, a homofobia, o racismo e outras formas de violência…  entretanto, o filme se perde no desenvolvimento da história, o espectador precisa de uma dose de paciência para acompanhar a história.

“The Hadmaid’s Tale, o conto de Aia”, narra uma história da violência estatizada. Também o controle se dá em nome da família (nem tão tradicional) e do puritanismo religioso. Uma sociedade marcada por uma divisão social rígida, como a ritualização das ações em vistas de uma divindade punitiva que favorece a casta elitizada. Além de toda a moralidade, há o bordel, o mercado negro, que obscuro é tolerado como uma válvula de escape… a violência do estado, esconde o que o próprio estado não quer ver. E como pano de fundo, o controle do sagrado.

Em ambos, o controle da violência se relaciona com o acesso à informação e como, em nome dos “bons costumes” a violência é exercida. Embora o primeiro filme caminha pela ausência do estado, o segundo, mostra um controle rígido. Os dois movimentos, levam ao modelo social adotado ao colapso. Nem a ausência do Estado, no primeiro filme, nem o excesso dele, no segundo, garantem o exercício da cidadania, e ainda mostram a religiosidade superior aos direitos sociais. Então, caberia a pergunta, onde está de fato a medida que garanta um equilíbrio social? Talvez, e só talvez, o equilíbrio passe por aquilo que Kant diria, sapere aude! Nos dois filmes, o uso da informação visa o controle das massas. O ponto poderia ser a transformação da informação em conhecimento. E talvez, e só talvez, é que falte atualmente… o conhecimento diante da enxurrada informacional que somos bombardeados diariamente. É o que explica, em muito, a atitude irresponsável de muitos em tempos de pandemia.

 

Prof. Dr. Albio Fabian Melchioretto

https://orcid.org/0000-0001-8631-527


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