Ontem participei de um evento acadêmico, onde assistimos e
discutimos Bacurau. Calei-me no debate. Habitava um sentimento difuso,
semelhante ao que senti ao sair da seção do Coringa. Enumerei os
protagonistas do filme. Não encontrei uma história central, como também não
encontrei o centro da vila Bacurau, aquilo que o ser humano é, pode vir a ser,
na experiência da comunidade. Não havia instituição centralizadora, a
comunidade não era os partícipes da igreja ou da escola, a comunidade era o todo.
Havia uma vida nua, que em Bacurau estava/estará absolutamente imanente. Os
nativos, diante da aniquilação da vida, capturada por uma estratégia de
biopoder, vivenciaram uma perspectiva virtual ao negar o Estado. A
pertinencialidade do vir-a-ser não estava na individualização do sujeito, mas
na comunidade. O protogonista é Bacurau. Ele se forma na soma dos entes que
compõe um território.
Bacurau não é um filme geográfico. É anarquista, no
sentido estrito da palavra. É um filme sobre território, no sentido,
deleuzo-guattariano. É um território, que por acaso está no Oeste de
Pernambuco, mas poderia estar a leste do Rio Grande do Sul… O território é
controlado por estratégias de biopoder que domesticam corpos com normativas
políticas. A resistência passa pela escola, que foi/é desterritorializada do
poder estatual, subverte a função do museu que olha para o futuro e
desnaturaliza a privacidade do sexo. É outra-vida, é aquela que permanece
diante do caos estático da morte.
Obras referenciadas
Filme comentado
Texto escrito em 2019
Prof.
Dr. Albio Fabian Melchioretto
https://orcid.org/0000-0001-8631-527
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