Kobra cria mural de grafite em homenagem a vítimas do coronavírus e fará leilão de obras para ajudar sem-teto de SP |
Pensar as consequências do COVID19 é um ato relacionado
diretamente a ações de política partidária governamental. Cada qual, toma as
decisões de acordo com seus interesses, que podem atender o bem comum, ou não.
Mas antes, considerar-se que uma caminhada política pelas ruas com fala aos
populares, ou uma carreata, não é um pensamento em torno do bem comum, mas é
uma ação política. O que se torna muito difícil não tecer críticas ao governo.
A crise epidêmica, além da saúde, é também
uma crise de gestão. A premissa é evidenciada nas falas do Ministério da
Saúde, quando reflete o problema da ocupação de leitos de UTI, daí a
necessidade do #fiqueemcasa. Então afirmamos com certa segurança, é uma crise
de gestão.
Muitos dos filmes de catástrofes que vemos, o final é
sempre marcado por ações de solidariedade. O 2012, termina com um discurso
descolonial muito forte. Algumas dessas falas ainda hoje são replicadas pela
mídia. Mas não é o tom geral. Quando há um coro de vozes que, questiona medidas
sanitaristas, ou tentativas de estabelecer uma campanha em prol do mercado e do
capital, a solidariedade torna-se apenas um discurso vazio e sem sentido.
“Precisamos trabalhar”. Não, precisamos viver. Ou ainda, religiosos neopentecostais
ou católicos alienados gritando o retorno imediato das igrejas. Que
solidariedade é essa?
A manutenção da
vida, necessita de investimentos fortes em dois setores estratégicos. Não se
faz avanços sem injeção de dinheiro na ciência e na educação. O que vivenciamos
nos últimos dois anos, foram cortes ou contingenciamentos (palavra da moda),
que só evidencia a mediocridade ideológica de um modelo de gestão pública.
Agora, este povo “anti” clama por cura. E são os primeiros a esbravejar. O
esforço da superação da COVID19, não se passa apenas por decretos de isolamento,
mas em fomentar pesquisas permanentes que pensem a ciência e a educação, não
por áreas de interesse do capital. Contrários a isso a CAPES deixou claro na
última semana, que pensar a integralidade das ciências não é prioridade. Que a
educação pode ser substituída por meios virtuais emergenciais. Pensar o ser
humano em um contexto de vida é raro, pensa-se apenas por áreas de
interesse, esta é a mensagem que vimos nas portarias e decretos educacionais
nos últimos dias.
Nas crises verdadeiras, e não a da econômica, o
vírus atacou a catedral do consumo. Quando se se fala em fechar um shopping, há
uma mensagem passada. Não podemos transitar em um templo do consumo. A
vida pautada pela efemeridade do “fast” é recolhida. Sem o transitório, se cria
um discurso do medo, de perca sobre o controle social. Quando há uma projeção
de falas, do tipo, precisamos trabalhar, é preciso atentar-se para sua falácia. Na verdade, quer-se dizer, precisamos consumir, circular, restaurar a crença no
consumo. O apelo por uma ecologia integral é substituída pelo do consumo como
necessidade de sobrevivência da vida, e não da vida para sobreviver, o consumo e
aquilo que alguns chamam de mercado. O mercado é inanimado.
Urge dizer que os direitos humanos prevalecem sobre o
mercado. A primazia do mercado é uma falha de caráter. Não se pode tratar o
mercado como se fosse um organismo vivo. A “anima” é humana. O pensador
Leonardo Boff, vai além, fala da Mãe Terra como anima. Ali está a vida. Mas há
o problema sobre o que fazemos com ela. E quando um discurso liberal da
necessidade do trabalho e da produção aparece, é um sinal claro, que a Mãe
Terra está infectada por um vírus ainda pior.
Quanto maior o número de doentes, maior o ganho da
indústria farmacêutica. Esta é a lógica da medicina liberal. Parece, mesmo
depois das falas da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e da estapafúrdia
campanha “O Brasil não pode parar” (que custou 4,8 milhões), que a
produtividade prevalece sobre o valor da vida humana. Economia e prevenção não
caminham juntas. Os políticos brasileiros escolheram um slogan débil. Não
haverá economia sem a prevenção, mas pelo visto, nem a indústria farmacêutica,
nem o setor industrial estão preocupados por isso. Diante do quadro, o
contingenciamento, na educação e na ciência, soam como um crime. São setores
que poderiam surgir com respostas frentes ao contágio. Mas os discursos
midiáticos nos tornam reféns daqueles que negam a ciência e da educação.
A falha está em provocar uma discussão superficial de
lavar mãos e criatividade para vencer a crise econômica. A casa comum é muito
mais do que isso. Mas, diante da mediocridade, o que nos resta?
Prof. Dr. Albio Fabian Melchioretto
https://orcid.org/0000-0001-8631-527
Comentários
Postar um comentário