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CRÍTICA AO FILME "O IRLANDÊS"

O Irlandês (The Irishman, EUA, 2019), será considerado um clássico do cinema, há ótimos elementos. Um filme para estar no arquivo de qualquer cinéfilo. Alcança sucesso, mesmo com estreia limitada no cinema, por conta de seu contrato de distribuição com Netflix. O filme tem por base o livro “The Irishman: sheeeran and closing the case on Jimmy Hoffa”. É uma autonarrativa de Frank Sheeran, veterano de guerra, que se torna um assassino de aluguel da máfia, apresentando uma crônica de velhos mafiosos rabugentos. Recebeu prêmio de melhor filme no New York Cirtics Award e foi indicado para o Globo de Ouro, preterido por “1917”. O que me cansou no filme foi o tempo, são quase 3 horas e meia de história. Para uma plataforma streaming, é um bom desafio, para a TV, só com alguns cortes.

O filme fala da morte. Ela tem um “punhado” de perspectivas. Brinca com a morte por meio de uma narrativa bem-humorada. Os “mocinhos” do filme, são mafiosos. Controlam o sindicato, se envolvem nos bastidores da política, da polícia e da notícia. O bom humor e apelo aos personagens, não podem se desviar da moralidade e deveria nos questionar do papel que a máfia ocupa, não só na trama, mas no dia a dia. Então, há humor na imoralidade? Frank não se incomoda com seus serviços, apenas sofre, com Pegg, a única filha que o desafia. Ela é símbolo da resistência por meio do silêncio. Não fica claro, se ela é seu alter-ego dominado pelos princípios cristãos, ou a ausência de seu poder sobre ela. Fiquei com esta dúvida na cena que ele vai ao guichê do aeroporto e ela o ignora. A morte está presente o tempo inteiro, mas ela é naturalizada. Tão comum, quanto chamar um italiano de Tonni. Diz Frank, “todos são Tonnis”.

Mesmo assim, as filmagens não retratam a morte. Como se o filme convivesse com a morte, mas ela é renegada. O sangue na parede, vira pintura. Os tiros, são distanciados, as cenas de violência, direcionadas para outros ângulos. Muita coisa é subintendida. É uma história que nos lembram outros filmes de gângster, e nos transporta para um mundo, que não é o submundo de outros longas, mas é uma discussão de poder e controle sobre as massas. A morte de pessoas; a morte de uma história (a enfermeira que não conhece Hoffa); a morte de uma época; a morte da moralidade, enfim, um filme de ausências que narram tão fortemente outra-história, para além daquela de Frank. 

Texto escrito em 2020

Prof. Dr. Albio Fabian Melchioretto

https://orcid.org/0000-0001-8631-527



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