Prof. Albio Fabian Melchioretto
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Escrito em 01/07/2020
Revisto em 31/12/2024

Estrada Nossa Senhora Aparecida, Braço Direito,
Massaranduba, 30.jun de 2020.
Massaranduba, 30.jun de 2020.
O fenômeno é natural, mas as causas são humanas!
Os vendavais da terça-feira, 30 de junho de 2020, deixaram, além do estrago, lições. O vento é um fenômeno natural, assim como a chuva, a inundação, o raio, entre outros. O excesso ou a falta fazem parte da vida com a Mãe Terra. Há de se considerar que a ação humana interfere diretamente na intensidade do que é um fenômeno natural. Karl Marx e Fredrich Engels (2007) nos lembram que a produção capitalista esgota a terra e o trabalhador. Os efeitos que sofremos, no corpo e na terra, são resultados de práticas que levam ao esgotamento. Algo semelhante à ideia de que desenvolver é mais importante que preservar (cf. Cardoso, 1995).
Após o vendaval, os efeitos eram visíveis em qualquer direção. Os lamentos de vizinhos e outros conhecidos relatavam perdas materiais, destruição da agricultura familiar, destelhamentos de casas, falta de energia elétrica e internet e por aí se vai. Nenhum deles relatou uma reflexão das consequências humanas no processo de destruição material. Há uma crença tão forte no capital que soa como uma religiosidade (cf. Weber, 2021). A perda do material, da propriedade, da plantação é mais forte que o pensar de ações humanas que, há séculos, explora irresponsavelmente recursos naturais. Um culto ultrarradical pela propriedade, quase uma Teologia da Prosperidade sobre a vida.
A sacralização do capital, imposto por uma agenda burguesa, transforma comportamento e práticas culturais. Nas regiões de migração bellunesa havia por costume o trabalho coletivo. As famílias rurais auxiliavam entre si na plantação, na colheita e no pedido de socorro, sem a necessidade de um pedido formal. O trabalho comum era uma prática vivencial (cf. Melchioretto, 2023). A crença no capital se sustenta na produção da propriedade privada. Na individualização produtiva e na falsa ideia de meritocracia. Como que em um comportamento em defesa do autocapital, a reconstrução de problemas coletivos tornou-se um processo individualizado (cf. Agamben, 2022). Sem ajuda, sem preocupação, sem estar com o outro, cada qual fechado em sua propriedade, coleta os restos de telha e serra os vários galhos espalhados pelo chão. Hoje, a ideia de trabalho coletivo, até mesmo no socorro, são apenas lembranças históricas. Talvez mais distante que a soma marcada de um calendário.
Para além da perda da coletividade, há também a ausência da sensibilidade. A experiência de uma vida comunitária, com tarefas coletivas, deixou de ser em função de uma agenda burguesa onde o ter e poder é visto como produto de mérito pessoal. Mas é curioso como esses mesmos capitalistas gritam pelo socorro do Estado que desprezam quando produzem.
Obras citadas
AGAMBEN, Giorgio. A comunidade que vem. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2022.
CARDOSO, Fernando Henrique. Desenvolvimento: o mais político dos temas econômicos. Brazilian Journal of Political Economy, São Paulo, v. 15, n. 4, p. 616–624, 1995.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Martin Claret, 2007.
MELCHIORETTO, Albio Fabian. Scuola italiana: memórias e silenciamentos. In: 5o Itinerário Interdisciplinar em Museologia. 3. ed. Blumenau: Fundação Hermann Hering, 2023. p. 21–25.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Editora Martin Claret, 2021.
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