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QUAL O LUGAR DA CIDADE?

 


A cidade, muitas vezes pensada como o epicentro da cultura, reúne em seu espaço físico uma vasta gama de símbolos e artefatos que definem a modernidade. Placas de trânsito, bancas de jornal, postes, viadutos e arranha-céus são mais do que meros componentes do cenário urbano; eles são testemunhos materiais das transformações históricas e tecnológicas pelas quais a cidade passou.

No entanto, não podemos ignorar a cultura campesina, que, embora não esteja sempre visível no cenário urbano, compõe uma parte essencial do tecido cultural mais amplo. Elementos como tradições agrícolas, folclore e práticas comunitárias rurais são igualmente valiosos e merecem reconhecimento e preservação.

A interação entre cidade e cultura escrita também deve ser compreendida a partir de seus desenvolvimentos históricos. Desde os primeiros registros, a cidade tem sido um centro de produção e disseminação de conhecimento, onde a palavra escrita adquire um papel crucial. Esta dinâmica não apenas moldou a vida urbana, mas também influenciou profundamente a vida rural.

Além dos aspectos materiais e culturais, a cidade é um espaço de mobilidade psíquica. Ela representa a oportunidade de movimento, tanto físico quanto mental, proporcionando aos seus habitantes a chance de explorar novas ideias, se envolver em debates e desenvolver suas identidades.

Por fim, a cidade é um lugar onde múltiplos poderes e micropoderes coexistem e se manifestam de formas variadas. Esses poderes nem sempre são institucionalizados; muitas vezes, estão presentes nas interações cotidianas e nas formas de organização social. A complexidade das relações de poder na cidade reflete a diversidade e a multiplicidade de experiências humanas que ela abriga.

Em suma, o lugar central da cidade reside em sua capacidade de ser um ponto de encontro e convergência de diversas culturas, tradições, símbolos e poderes. É na cidade que a materialidade se encontra com a psique, onde o passado dialoga com o presente e onde a cultura urbana e rural se interseccionam, criando um mosaico rico e dinâmico da experiência humana.


Referência:

BARROS, José d’Assunção. Cidade e história. Petrópolis: Vozes, 2007.



Massaranduba, 15.dez 2024



Prof. Dr. Albio Fabian Melchioretto

https://orcid.org/0000-0001-8631-527


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