Os primeiros dias do governo estadunidense Donald Trump é marcado por uma perseguição cruel e desumana aos imigrantes de situação irregular (Matais, 2025). A fiscalização não é novidade deste governo, mas o terrorismo da caça em escolas e igrejas é uma prática cruel, tratando-os como se fossem criminosos. A ação neonazista de Trump faz-me lembrar da Segunda Guerra Mundial, de modo especial a perseguição imposta pelo dispositivo do nazismo.
A comparação entre as perseguições sofridas pelos judeus
durante a Segunda Guerra Mundial, conforme retratadas por Primo Levi (1988),
e as experiências dos estrangeiros sob políticas migratórias do governo desumano
de Trump, revela paralelos perturbadores, embora em contextos históricos e
sociais distintos. São cenários da negação de direitos fundamentais e a
construção de narrativas que justificam a exclusão e o sofrimento.
Primo Levi (1988) descreve a desumanização sistemática
dos judeus nos campos de concentração, onde eram reduzidos a números, privados
de identidade e tratados como inferiores. A desumanização era parte de uma
máquina burocrática, estratégica e ideológica que legitimava a violência e a
morte.
De maneira análoga, os estrangeiros que buscam refúgio ou
uma vida melhor nos Estados Unidos muitas vezes são reduzidos a estatísticas,
tratados como "invasores" ou "criminosos", e submetidos a
condições desumanas em centros de detenção. Enquanto isso, ao ver centenas de
algemados num avião (BBC, 2025) lembro que a separação de famílias, a superlotação e
a falta de cuidados básicos (estou falando dos Estados Unidos ou Auschwitz?)
são práticas que ecoam a lógica de desumanização.
Na obra "Os Afogados e os Sobreviventes", Primo
Levi (2021)
contempla como a sobrevivência nos campos dependia de uma complexa rede de
fatores, incluindo sorte, privilégios temporários e a capacidade de resistir à
degradação moral imposta pelo sistema. Da mesma forma, os estrangeiros que
tentam cruzar as fronteiras dos Estados Unidos enfrentam um sistema que os
coloca em situações de extrema vulnerabilidade. Muitos dependem de
"coiotes" (traficantes de pessoas) para atravessar fronteiras,
arriscando suas vidas em jornadas perigosas, pelo deserto, pelo Rio Grande, enquanto
outros são explorados por um sistema migratório que os criminaliza e os submete
a condições precárias. Quantas mulheres são violadas nesta trajetória? Quantos
falecem em busca do “sonho americano”? Quantos são capturados pelo sistema de
drogas?
Durante o Holocausto, os judeus foram retratados como uma
ameaça à pureza racial e à estabilidade econômica, uma narrativa que serviu
para legitimar sua perseguição. Nos Estados Unidos, estrangeiros, especialmente
aqueles de origem latino-americana, são frequentemente retratados como uma
ameaça à segurança nacional, à economia e à identidade cultural. Essa retórica,
amplificada por líderes políticos e pela mídia, cria um ambiente onde políticas
de extrema-direita, deportações em massa e detenções prolongadas são vistas
como necessárias ou justificáveis. A
direita pautada no mercado não se importa com vidas humanas.
No entanto, é crucial reconhecer as diferenças contextuais.
O holocausto foi um genocídio planejado e executado visando
exterminar um povo, enquanto as políticas migratórias dos Estados Unidos, por
mais cruéis que sejam, não têm o mesmo objetivo declarado, pelo menos não agora.
Ainda assim, a desumanização e o sofrimento imposto a grupos vulneráveis são
uma constante que demanda reflexão e ação.
Textos citados
BBC. Brasileiros deportados: o que disse Brasil sobre algemados em
voo de deportação dos EUA. BBC News Brasil, 2025. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cz0lye4ger0o. Acesso em: 29 jan. 2025.
LEVI, Primo. É isto um homem? Rio de Janeiro: Rocco, 1988.
LEVI, Primo. Os afogados e os sobreviventes: os delitos, os
castigos, as penas. 5. ed. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2021.
MATAIS, Andreza. Trump faz discurso de ódio e trata imigrantes como
criminosos. Opinião | Portal UOL, 2025. Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2025/01/25/donald-trump-presidente-eua-deportacao-imigrantes.htm.
Acesso em: 29 jan. 2025.
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