Prof. Dr. Albio Fabian Melchioretto
INTRODUÇÃO
O que é a política? Esta é uma discussão importante para
entender as condições do tempo presente. A política, dada a partir da noção
grega, de participação na pólis (πόλις),
versa sobre a condição do homem livre. “Só é livre aquele que se envolve na
vida pública, na vida coletiva” (Cortella; Ribeiro, 2012, p. 9). A política é a vivência
livre sobre um modo de vida. Mas, o conceito grego, traz um problema
significativo, quando pensado a história do tempo presente, vive-se em tempos
de individualismo.
Os textos de Platão, como A República (Platão, 2000), apresentam um movimento interessante. É o
deslocamento dos pressupostos mitológicos para afirmar a organização social e a
discussão das coisas públicas a partir do questionamento racional. Para tala, a
educação era vista como um instrumento necessário para pensar “a política como
luz” (Cortella; Ribeiro, 2012, p. 12).
Entretanto, a ideia de política como uma escolha deliberada
e livre perdeu-se ao longo do tempo. Para Cortella e Ribeiro (2012) vive-se uma
desilusão da política em escala global. A ideia de viver em sociedade,
compondo-se em uma comunidade de homens livres, como concebida pelos gregos
antigos, deu lugar a outros tipos de valores. Para os autores, o tempo presente
é marcado por certo desprezo; pela política como forma de tédio e até mesmo, desenvolveram-se
formas de asco. Movimentos midiáticos normatizaram a aproximação da política
com corrupção. Há de se considerar que “ela só está sendo mais percebida” (Cortella; Ribeiro, 2012, p. 31).
Mobilizado por estas reflexões buscou-se investigar junto
aos estudantes do ensino médio, o que eles pensam sobre política. Este texto, é
o primeiro esboço de uma análise, ainda propedêutica, sobre o tema e o
resultado das vozes pensantes dos estudantes.
METODOLOGIA E RESULTADOS
A geração de dados aconteceu com estudantes do segundo ano
do ensino médio de uma escola privada do Médio Vale do Itajaí como atividade
escolar em uma aula intitulada, “realismo político”.
A aula foi uma exposição sobre o conceito de política, dado
a partir da Grécia Antiga e da vivência na pólis e sobre a noção de
política real em Maquiavel (2018).
Ao propor um “manual” de como conquistar e manter o poder, Maquiavel rompe com a
ideia de pólis para enfatizar a necessidade da cisão entre política e
religião. Com isso ele formula uma teoria política que seria tomada como base para
a criação de outras teorias fundamentais no entendimento da formação dos
Estados Nacionais no período Moderno.
Então, após a apresentação dos conceitos supracitados, em
aulas expositivas, para 40 estudantes, perguntou-se, “a partir da aula e dos
conceitos estudantes, o que você entende por política?” A resposta foi coletada
com uso do serviço menti.com, através da ferramenta de “nuvem de palavras”. Dos
estudantes envolvidos, 34 responderam, e a partir dela, temos a seguinte nuvem:
Figura 1:
nuvem de palavras, produto da geração de dados. Elaborado pelo pesquisador
(2025)
CONVERSANDO COM OS DADOS
A análise das respostas revela uma percepção multifacetada
da política, marcada por tensões entre perspectivas clássicas e realistas.
Aproximadamente 19% dos termos associam política a instituições e
estruturas formais, como "Estado", "Governo" e
"Eleição", refletindo a visão da política como organização do poder
público, muito diferente da concepção de homens livres (pólis) que se
discutia preservando uma ideia de comunidade. Conceitos como
"Cidadania" e "Partido" destacam a dimensão participativa e
hierárquica, enquanto "Presidente" simboliza a centralização da
liderança. Essa abordagem institucional, embora relevante, mostra-se
minoritária diante de outras interpretações dominantes.
Em contraste, as visões idealistas de Platão (2000)
aparecem com menor expressividade, em 27% das respostas. A forte presença de
"Democracia" alinha-se à busca aristotélica pelo bem supremo,
enquanto "Amizade" remete à philia como alicerce
comunitário (cf. Aristóteles, 2009). Na perspectiva platônica,
"Conhecimento" e "Debate" ecoam a política como ciência
régia, dependente de sabedoria e diálogo racional. Contudo, a escassez de
termos como "Justiça" ou "Virtude" sinaliza que essa
tradição clássica não define o imaginário atual.
Predomina, com 51% das menções, uma visão maquiavélica
e realista. Palavras como "Poder", a mais frequente,
"Corrupção" e "Manipulação" traduzem a política como arena
de conquista e manutenção da autoridade. "Roubo",
"Ditadura" e "Autocracia" reforçam o foco na luta pelo
controle, desvinculada de ética. Esses termos ilustram o "ajuste entre o
que se vive e o que se deve viver", a contradição entre princípios ideais
e práticas pragmáticas.
A coexistência de "Democracia", com 7 menções com
termos negativos como "Fracasso" ou "Desorganização" expõe
uma dicotomia crítica. O ideal democrático é reconhecido, mas visto como
frágil e corrompível. A raridade de noções positivas "Amizade",
"Conhecimento" e a ausência de "Bem Comum" marginalizam as
utopias clássicas. Em seu lugar, surgem "Propaganda" e
"Ideologia", sugerindo instrumentalização de narrativas em prol do
poder.
Figura 2:
Cartografia dos dados. Elaborado pelo autor (2025).
CONSIDERAÇÕES PROVISÓRIAS
A partir dos dados apresentados, percebe-se que para os
estudantes do ensino médio a política é majoritariamente percebida
como jogo de interesses, não de virtudes. O realismo maquiavélico, focado
em poder, sobrevivência e corrupção, domina o imaginário, enquanto as visões de
Aristóteles e Platão figuram como referências distantes. A ênfase em conflito, "oposição",
controle ("autoridade") e degeneração ("corrupção") reflete
um desencanto estrutural, onde a política se afasta do bem coletivo para
se tornar campo de batalha pelo controle. A política como campo de individuação
é superior à ideia de comunidade e bem comum.
Blumenau,
domingo, 13 de julho de 2025.
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 3. ed. São Paulo: Martin Claret,
2009.
CORTELLA, Mario Sergio; RIBEIRO, Renato
Janine. Política: para não ser idiota. 9. ed. Campinas: Papirus 7 Mares,
2012. (Papirus debates).
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São
Paulo: Edipro, 2018.
PLATÃO. A alegoria da Caverna. In: A
REPÚBLICA. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.
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