Pular para o conteúdo principal

ECOLOGIA INTEGRAL E A INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ

Cachoeira do Salto Donner, Dr. Pedrinho, SC
 A igreja no Brasil, durante a quaresma, desde 1962, soma esforços para uma reflexão aprofundada com todos os fiéis a partir de temas com impacto social na promoção do espírito quaresmal. Chama-se este movimento de Campanha da Fraternidade (CF). E ele é direcionado com um tema e um lema. O tema para o ano de 2025 é Fraternidade e Ecologia Integral e o lema, “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31) (cf. CNBB, 2024). 

A CF possui uma dimensão educacional, como salientam Messias e Mancilha (2024). Ao pensar o aspecto educacional, afirma-se, com certa segurança, que a CF dialoga com a proposta da Catequese de Iniciação à Vida Cristã (DC, 2020). O processo catecumenal, recuperado na catequese, a partir do Vaticano II, prevê a preparação dos catecúmenos para uma vida pautada na fraternidade, em seu sentido estrito, testemunhando a experiência do discipulado missionário na comunidade (cf. RICA, 2019). 

A vivência do catecúmeno só tem sentido quando há o envolvimento com a comunidade. Ao pensar desta forma, abre-se a oportunidade de refletir acerca da integralidade da formação. Uma formação cristã e catequética que preza pela integralidade, unindo espiritualidade e compromisso social. O catecúmeno se expressa como crente, no sentido integral, vivenciando uma oportunidade além das categorias promovidas por “pastorais de momento”.

A crítica que se tenta estabelecer aqui pauta-se na lógica apresentada por Papa Francisco que é retomada nesta CF, que celebra os 10 anos da Laudato Si (Francisco, 2015). Na carta encíclica Francisco nos provoca a pensar a formação integral do ser humano superando os espaços de individuação. “Aos problemas sociais responde-se, não com a mera soma de bens individuais, mas com redes comunitárias” (Francisco, 2015, n. 219).

A epistemologia ecológica apresentada nesta campanha conclama a pensar uma ética do cuidado de si, do cuidado com o outro e por somatório, o cuidado da comunidade (CNBB, 2024, n. 171). A integralidade não cria categorias, mas pensa uma presença ecológica sistêmica. Pensar em rede, mas uma rede diferente do pensamento da “rede internet” que gera bolhas. A rede proposta por Francisco (2015), gera comunidade. 

E aqui existe uma perspectiva de aproximação com a Iniciação à Vida Cristã. Na medida que o processo catecumenal avança, a formação deixa de contemplar uma perspectiva de pastoral de serviço, reduzida a um único movimento, para formar um cristão de mente e coração aberto a totalidade. A visão sistêmica permitirá experimentar uma noção de comunidade na amplitude da vivência cristã. Enquanto, o pensamento fragmentado por categorias reduz a experiência a único instante. Não há uma experiência de vida, somente de momentos.

A história do tempo presente é marcada por certas contradições. Enquanto a epistemologia pregada por Francisco reflete uma casa como espaço coletivo, a casa comum, a epistemologia do capitalismo versa sobre a individualidade e prega uma pedagogia do consumo. O que é denunciado por Francisco na Laudato Si (2015). Setores da igreja, em certas circunstâncias também repetem a pedagogia do consumo, em vez da lógica da casa comum. E neste aspecto, Francisco denuncia a ausência de integralidade.

Ao encontrar uma igreja clerical, centrada no poder e na exuberância estética, em vez do cuidado preferencial pelo pobre, ela renuncia à epistemologia de Francisco para pensar uma pedagogia do consumo. Ornamentos e paredes mais importantes que a fome dos irmãos. E diante do problema, como pensar um itinerário alternativo ao consumo?

A transformação paradigmática passa por um caminho formativo “A catequese introduz a todas as dimensões da vida cristã, ajudando cada uma iniciar, na comunidade, sua jornada pessoal de resposta a Deus que o buscou” (DC, 2020, n. 64b). E o primeiro passo desta formação é a iniciação à vida cristã que prevê a educação para o discipulado missionário, afinal todos são “chamados a se tornarem autênticos discípulos missionários” (DC, 2020, n. 4).

No tempo, onde a CF nos convida à conversão através do exercício do cuidado para com a Mãe Terra (cf. CNBB, 2024, n. 46), o qual é exemplo máximo de integralidade, pensar na categorização da vivência cristã é caminhar em direção oposta. Afinal, o convite educativo da CF é pensar uma ética do cuidado de si, e do outro, numa perspectiva da Fraternidade e Ecologia Integral. O outro é o meu frater.


Referências

CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. CF 2025 - Manual: Campanha da Fraternidade 2025. Brasília: Edições CNBB, 2024. (Campanha da Fraternidade 2025). 

DC, Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. Diretório para a Catequese. Brasília: Edições CNBB, 2020. (Documentos da Igreja, v. 61). 

FRANCISCO, Papa. Laudato si: sobre o cuidado da casa comum. Brasília: Edições CNBB, 2015. (Documentos pontifícios, v. 22). 

MESSIAS, Elvis Rezende; MANCILHA, Mariana Silva. Da pedagogia da fragmentação à pedagogia da integralidade. Revista Encontros Teológicos, Florianópolis, v. 39, n. 3, Fraternidade e ecologia integral, p. 765–789, 2024. 

RICA. Ritual de Iniciação Cristã de Adultos. São Paulo: Paulus, 2019. 

Sobre o autor:

Texto escrito por Prof. Dr. Albio Fabian Melchioretto

(0000-0001-8631-5270)

Filósofo e geógrafo. Doutor em Desenvolvimento Regional.

Editor do Tecendo Ideias (Top 100 Education Podcasts)





Comentários