Na era da modernidade líquida, a educação vive sob a sombra
de um cenário que a torna cada vez mais frágil e descartável. Consumimos
cursos. Zygmunt Bauman alerta que, em um mundo que valoriza a rapidez e a
utilidade imediata, a escola e a universidade perdem espaço para a lógica do
resultado rápido. Não se pode mais ler longos textos, vídeos devem ser curtos,
e a profundidade dá lugar a estupidez de superfície. Quando mergulharemos?
Neste espaço predominam métricas de produtividade e retorno financeiro, o ato
de ensinar e aprender se torna um processo frio, desprovido de cuidado e com
pouco espaço para o imprevisto criativo. A escola deixa de ser lugar de
aprender e tornou-se negócio, negando o que há de mais nobre do saber, o ócio.
É aí que nasce a perigosa noção de empreendedor de si, tão
celebrada pela educação contemporânea. O indivíduo passa a ser visto como um
projeto empreendedor, responsável por maximizar seu próprio valor de mercado em
detrimento do saber, alguns idiotas dirão, “para quem estudar Bhaskara se nunca
usarei na minha vida”. Bauman critica essa visão ao lembrar que a educação não
é um produto padronizado, pronto para ser comprado e consumido. Ela é um bem
coletivo, uma prática ética que ultrapassa o cálculo de custo e benefício, por formar cidadãos capazes de pensar criticamente e reinventar a comunidade. Sem
comunidade não há saber.
Para resgatar a educação como virtude, o caminho está na
desconstrução da ideia de que tudo nela deve se submeter às leis do mercado. Redescobrir
o poder transformador do conhecimento desafiando o senso comum. Para além dos
muros alimentar a empatia, a solidariedade e o pensamento livre. Afinal, se a
modernidade líquida ameaça dissolver nossos vínculos mais profundos, não seria
na escola que aprendemos a reconstruí-los? Até quando se aceita a
mercantilização da educação sem questionar seus impactos na formação humana?
Leitura sugerida:
BAUMAN, Zygmunt. 44 cartas do mundo líquido moderno.
Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
Filósofo e geógrafo. Doutor em Desenvolvimento Regional.
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