Prof. Dr. Albio Fabian Melchioretto
A fé cristã demonstra ser uma força significativa para a
mudança social, conforme destaca o papa Leão XIV (2025). O olhar para com o pobre e a promoção da
justiça social são uma parte integral da prática e do legado dessa fé, conforme
foi destacado em Medellin (1968). Nas próximas linhas pretende-se refletir como o
cristianismo tem influenciado e continua a impulsionar mudanças sociais através
da opção preferencial pelos pobres, que foi um compromisso assumido pela igreja
latino-americana.
Desde suas origens, o cristianismo tem se envolvido
ativamente em questões de justiça social, como aprendemos em Atos 2,42-47. Além
do bem comum apresentado pelos primeiros cristãos, movimentos como o
abolicionismo, a luta pelos direitos civis, e as causas pela justiça econômica
e ambiental são exemplos claros, como já vimos com Papa Francisco (2015). A
doutrina social da igreja não se fecha no “sexo dos anjos”, mas reflete um
compromisso cotidiano.
As ações sociais cristãs, não deveriam ser assistencialistas,
mas sim uma missão alimentada pela crença em um Deus que valoriza a dignidade
humana e busca a justiça. Impulsiona cristãos a desafiar as estruturas injustas
e promover abrangência e inclusão. Por exemplo, a fé inspira as comunidades a
oferecerem programas de apoio, assistência médica, educação e oportunidades
econômicas para quem mais precisa, através das pastorais sociais.
A fé oferece pistas fundamentais para enfrentar as adversidades,
provê uma base moral para a resistência pacífica e o ativismo ético, como nos
chama atenção Leão XIV (2025). O amor ao próximo, compaixão e a visão da comunidade como
“corpo” reforçam a ideia de responsabilidade compartilhada, ela só terá efeitos
de mudanças na coletividade. Quando aplicado à ação social, isso pode resultar
em iniciativas sustentáveis de longo prazo, pois as motivações são além das
políticas de curto prazo.
A fé cristã exorta para o cuidado comunitário e para a
solidariedade. Grupos e pastorais que atuam como centros de apoio, oferecendo
não somente assistência material, mas também participação social e cidadã. Isso
cria redes de apoio que podem complementar e, em alguns casos, substituir o
vácuo de serviços públicos, dados a ineficiências ou desigualdades de acesso.
Além disso, a abordagem comunitária do cristianismo pode fomentar um sentido de
pertencimento e identidade, essenciais para a resiliência frente à adversidade.
A abordagem comunitária dar-se-á através da perspectiva da esperança, afinal,
“a esperança não decepciona” (Romanos 5,5).
Apesar do potencial transformador, não se pode ignorar que a
ação social cristã também enfrenta desafios e, às vezes, limitações e pôr-se
como resistência frente a perseguições do tempo presente. Pode haver
divergências sobre como abordar questões complexas, como políticas públicas,
economia, e questões LGBTQ+, por exemplo, divergência de abordagem, mas não de
ação e cuidado com “a casa comum” (cf. Papa Francisco, 2015). Além
disso, a interseção entre religiosidade e políticas públicas nem sempre é
direta ou isenta de tensões. O reconhecimento de tais desafios é crucial para
inovação e diálogo.
A fé cristã, quando alinhada com práticas compassivas e
justiça, pode ser uma força poderosa para o bem social. Através da educação,
ativismo, mobilização em favor de alguma causa, e cuidado comunitário, cristãos
atuam para criar um mundo mais equitativo. A História mostra seu potencial
impactante, mas é necessário um compromisso contínuo com a reflexão, o diálogo
e a inovação para que esta força continue a dar frutos. Reforçar a interação da
fé com a ação social envolve reconhecer onde e como a fé pode inspirar e
qualificar ações, bem como estar abertos a cooperações e críticas construtivas.
Referências
CELAM, Conselho Episcopal Latino-Americano. Documento de Medellín: conclusiones. La igreja en la actual
transformación de América Latina a luz del Concilio. Medellin, 1968.
PAPA FRANCISCO, Laudato si: sobre o cuidado da casa comum. Brasília:
Edições CNBB, 2015. (Documentos pontifícios, no 22).
PAPA LEÃO XIV. Mensagem do Santo Padre Leão XVI para o IX dia mundial
dos Pobres: XXXIII Domingo do tempo comum, 16 de novembro de 2025.
Vatican.va, 2025. Acesso em: 14 out. 2025.
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