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UMA CRÍTICA AO EMPREENDEDOR DE SI

  Na era da modernidade líquida, a educação vive sob a sombra de um cenário que a torna cada vez mais frágil e descartável. Consumimos cursos. Zygmunt Bauman alerta que, em um mundo que valoriza a rapidez e a utilidade imediata, a escola e a universidade perdem espaço para a lógica do resultado rápido. Não se pode mais ler longos textos, vídeos devem ser curtos, e a profundidade dá lugar a estupidez de superfície. Quando mergulharemos? Neste espaço predominam métricas de produtividade e retorno financeiro, o ato de ensinar e aprender se torna um processo frio, desprovido de cuidado e com pouco espaço para o imprevisto criativo. A escola deixa de ser lugar de aprender e tornou-se negócio, negando o que há de mais nobre do saber, o ócio.   É aí que nasce a perigosa noção de empreendedor de si, tão celebrada pela educação contemporânea. O indivíduo passa a ser visto como um projeto empreendedor, responsável por maximizar seu próprio valor de mercado em detrimento do saber, algu...
Postagens recentes

NÃO HÁ COMUNIDADE NAS MÍDIAS SOCIAIS

 Neste breve texto pretendo discutir o emburrecimento do discurso em microblogs para pensar a existência de discursos de ódio em mídias sociais, ou na pior das hipóteses, negá-los. Em primeiro, quero apresentar o contexto desta postagem. O que chamo aqui de emburrecimento é a ausência de uma reflexão crítica e sistêmica. Há um uso comum, como insultos, mas aqui, como condição da ausência. Já, microblogs são ferramentas de mídias sociais que permitem a postagem de textos curtos. O mais conhecido é o antigo Twitter – me nego a usar o novo nome daquela mídia. Por ora, centro minhas reflexões no Threads, microblog do grupo Meta, onde mantenho um perfil ativo e cítrico. No último domingo escrevi um texto que ultrapassou 5 mil visualizações e muitos comentários críticos, e dezenas deles ofensivos. Postei, “eu entendo um super rico questionar tributação e defender o livre mercado, mas um pobre? E claro, vale lembrar, classe média é pobre, repita comigo: po-bre! ” [1] A postagem partia de ...

ECOLOGIA INTEGRAL E A INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ

Cachoeira do Salto Donner, Dr. Pedrinho, SC  A igreja no Brasil, durante a quaresma, desde 1962, soma esforços para uma reflexão aprofundada com todos os fiéis a partir de temas com impacto social na promoção do espírito quaresmal. Chama-se este movimento de Campanha da Fraternidade (CF). E ele é direcionado com um tema e um lema. O tema para o ano de 2025 é Fraternidade e Ecologia Integral e o lema, “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31) (cf. CNBB, 2024).  A CF possui uma dimensão educacional, como salientam Messias e Mancilha (2024). Ao pensar o aspecto educacional, afirma-se, com certa segurança, que a CF dialoga com a proposta da Catequese de Iniciação à Vida Cristã (DC, 2020). O processo catecumenal, recuperado na catequese, a partir do Vaticano II, prevê a preparação dos catecúmenos para uma vida pautada na fraternidade, em seu sentido estrito, testemunhando a experiência do discipulado missionário na comunidade (cf. RICA, 2019).  A vivência do catecúmeno só te...

A PERCEPÇÃO CONTEMPORÂNEA DE POLÍTICA: UMA VISÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO

Prof. Dr. Albio Fabian Melchioretto 0000-0001-8631-5270 INTRODUÇÃO O que é a política? Esta é uma discussão importante para entender as condições do tempo presente. A política, dada a partir da noção grega, de participação na pólis ( πόλις ), versa sobre a condição do homem livre. “Só é livre aquele que se envolve na vida pública, na vida coletiva” (Cortella; Ribeiro, 2012, p. 9) . A política é a vivência livre sobre um modo de vida. Mas, o conceito grego, traz um problema significativo, quando pensado a história do tempo presente, vive-se em tempos de individualismo. Os textos de Platão, como A República (Platão, 2000) , apresentam um movimento interessante. É o deslocamento dos pressupostos mitológicos para afirmar a organização social e a discussão das coisas públicas a partir do questionamento racional. Para tala, a educação era vista como um instrumento necessário para pensar “a política como luz” (Cortella; Ribeiro, 2012, p. 12) . Entretanto, a ideia de política como ...