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Mostrando postagens de dezembro, 2024

LIÇÕES DE UM CICLONE BOMBA

 Prof. Albio Fabian Melchioretto ( 0000-0001-8631-5270 ) Escrito em 01/07/2020 Revisto em 31/12/2024 Estrada Nossa Senhora Aparecida, Braço Direito, Massaranduba, 30.jun de 2020. O fenômeno é natural, mas as causas são humanas! Os vendavais da terça-feira, 30 de junho de 2020, deixaram, além do estrago, lições. O vento é um fenômeno natural, assim como a chuva, a inundação, o raio, entre outros. O excesso ou a falta fazem parte da vida com a Mãe Terra. Há de se considerar que a ação humana interfere diretamente na intensidade do que é um fenômeno natural. Karl Marx e Fredrich Engels (2007) nos lembram que a produção capitalista esgota a terra e o trabalhador. Os efeitos que sofremos, no corpo e na terra, são resultados de práticas que levam ao esgotamento. Algo semelhante à ideia de que desenvolver é mais importante que preservar (cf. Cardoso, 1995). Após o vendaval, os efeitos eram visíveis em qualquer direção. Os lamentos de vizinhos e outros conhecidos relatavam perdas materiais...

COMO A DIREITA SE APROPRIOU DO DISCURSO SOBRE IDEOLOGIAS?

Prof. Dr. Albio Fabian Melchioretto https://orcid.org/0000-0001-8631-5270 A direita brasileira deturpa os discursos. A deturpação pode ser má-fé e, problemas sérios de domínio intelectual sobre os conceitos. A julgar seus políticos, mais preocupados em mídias sociais que livros, acredito que ambas sejam verdadeiras. A ausência de conhecimento e a má-fé sobre os discursos. Para tentar responder à questão problema, me valerei de um texto clássico de Marilena Chauí (1980). Os discursos da direita brasileira são rasos, mediados pelo momento de interesse, e desconhecedores de processos históricos. Frequentemente acusa professores de doutrinação ideológica, sem compreender a complexidade do termo e seu funcionamento. Essa simplificação ignora a gênese histórica da ideologia e a torna um instrumento de ataque vazio na busca incansável em defesa do autoritarismo que lhe é particular. “As manifestações ideológicas do autoritarismo brasileiro são desvendadas a partir de sua gênese na própria e...

QUAL O LUGAR DA CIDADE?

  A cidade, muitas vezes pensada como o epicentro da cultura, reúne em seu espaço físico uma vasta gama de símbolos e artefatos que definem a modernidade. Placas de trânsito, bancas de jornal, postes, viadutos e arranha-céus são mais do que meros componentes do cenário urbano; eles são testemunhos materiais das transformações históricas e tecnológicas pelas quais a cidade passou. No entanto, não podemos ignorar a cultura campesina, que, embora não esteja sempre visível no cenário urbano, compõe uma parte essencial do tecido cultural mais amplo. Elementos como tradições agrícolas, folclore e práticas comunitárias rurais são igualmente valiosos e merecem reconhecimento e preservação. A interação entre cidade e cultura escrita também deve ser compreendida a partir de seus desenvolvimentos históricos. Desde os primeiros registros, a cidade tem sido um centro de produção e disseminação de conhecimento, onde a palavra escrita adquire um papel crucial. Esta dinâmica não apenas moldou a vi...

QUAIS SÃO AS SINGULARIDADES QUE EXISTEM NUMA COMUNIDADE?

Região da Velha Grande também compõe a lista de favelas (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total, Arquivo)  A ideia de comunidade atravessa as estruturas sociais de diferentes épocas, mas a sua compreensão histórica revela transformações significativas que refletem a lógica das relações de poder e os modos de produção econômica. Essas ideias não dizem o mesmo. Por exemplo, para Rocha (2013), no século XIX as comunidades foram concebidas como formas administrativas, criadas pelo Estado para estruturar e orientar o desenvolvimento de uma porção específica de um território. Tratava-se de uma delimitação geográfica, onde a ideia de pertencimento se dava pela localização física e pela funcionalidade desse espaço no processo de organização imposto pelo Estado. O sentido da comunidade, portanto, era instrumental, imposto por uma visão governamental que buscava ordenamento e eficiência.   Com o advento da modernidade e o avanço do capitalismo, a comunidade é ressignificada. Como nos a...

BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO

Outro dia, correndo pelos canais da televisão, parei no SBT. Era o longo jornal matinal. Na tela havia um corpo e muitos policiais. A jornalista, em um longo monólogo, contava que a vítima foi resultado de um bandido liberado na saidinha, das muitas que temos. Ele aproveitou para tecer um novo crime. O resto do discurso é aquele de sempre, bandido bom é bandido morto , que a justiça deveria ser rigorosa, que a soltura, blá, blá, blá. Há uma questão que me fez pensar, enquanto assistia aquele discurso raivoso. Por que culpamos o bandido pela reincidência no crime e não o sistema carcerário que falhou na recuperação humana? Dados mostram que 70% dos bandidos soltos voltam a cometer algum tipo de crime . É falha de caráter ou falha do sistema carcerário que não deu conta de reintegrar o detento? O sistema carcerário possui duas funções, punir e recuperar. Parcialmente dá conta apenas do isolamento. Falha grotescamente ao não recuperar. Qual instituição que, com apenas 30% de sucesso, ...

PILATOS E JESUS

Hoje terminei o livro Pilatos e Jesus, de Giorgio Agamben. O filósofo italiano busca no encontro de ambos questionar a ideia julgamento. Os judeus  entregam Cristo às mãos do estado é o mote. Agamben sugere o encontro de dois mundos, o divido e o terreno, que desfilam sua própria imanência na tragédia. Durante o texto, por diversas vences pensei comigo mesmo, “malditos liberais”. Tal qual os judeus, os liberais negam o Estado. Os judeus recorreram à Roma para jogar Cristo à cruz, os liberais, correm ao estado para superar a crise sanitária e a econômica. Uma relação hipócrita e repleta de interesses pessoais. Diante deste contexto todo, vemos o silêncio vergonhoso das igrejas tradicionais, que se acomoda diante dos liberais, em troca de moedas para manter seu conforto. Ela consegue gritar “ crucifica-o ”, em vez de ser um grito de justiça. Tantos os liberais como os judeus, só fazem voz grossa, quando Pilatos quer “lavar” suas mãos, mas não por um interesse legítimo, senão pessoal…...

A RELIGIOSIDADE E A AUSÊNCIA DA LIBERDADE

Texto de 2020   Nos últimos dias acompanhei dois filmes que me fizeram pensar sobre o controla violência, da divulgação da informação que este tipo de poder representa. O primeiro filme foi o “Assassination Nation” (EUA, 2018), dirigido por Sam Levison, o segundo, o filme adaptado “The Hadmaid’s Tale” (EUA, 1990). Este último é adaptação do livro de Margaret Atwood, 1985, e da série de mesmo nome, que está no ar desde de 2017, aqui no Brasil é vista pelo Paramount Channel. São dois filmes diferentes, mas que encontram no controle sobre a violência uma intersecção. “Assassination Nation” conta a história de quatro adolescentes da pequena cidade de Salem, em Massachusetts. Elas se tornam o foco de atenção da mídia depois que informações pessoais de vários munícipes são divulgadas por um hacker anônimo. O ataque desperta uma onda de violência aceitável socialmente. Novamente, Salem, caças suas bruxas, como se o pecado estivesse nas bruxas.   Antes disso, há todo um conjunto vio...

COMBATER OU SUPERAR O COVID19

Texto escrito em 2020   Segundo o dicionário… Combater, luta entre grupos pouco numerosos de forças militares, de extensão menor que a batalha. Ou ainda, luta entre gente, armada ou não. Também cabe, como, uma discussão em torno de um assunto. Controvérsia, debate.  Superar, por sua vez, significa, alcançar vitória sobre, vencer. Ser ou tornar-se superior a, ultrapassar, exceder, sobrepujar. Ou ainda, tornar-se mais eficiente ou superior em relação a outro.  Se pensarmos nos dois verbos, me parece que combater o Covid19 não é a melhor escolha. A humanidade precisará aprender a conviver com ele. Não é uma questão de guerra, embora, alguns queriam que seja, dicotomizando a discussão. É momento de superar e ultrapassar o modo neoliberal de ver o mundo e a economia. Tornar-se mais eficientes como pessoa e não, como produção. Como Papa Francisco afirmou esta semana, um combate nos levaria a um genocídio viral.     Prof. Dr. Albio Fabian Melchioretto https://...

COVID19 E A ECOLOGIA INTEGRAL, DIVERSAS IDEIAS, ENTRE ELAS A SUPERAÇÃO DO COVARD17

Kobra cria mural de grafite em homenagem a vítimas do coronavírus e fará leilão de obras para ajudar sem-teto de SP  Texto escrito em 2020 Pensar as consequências do COVID19 é um ato relacionado diretamente a ações de política partidária governamental. Cada qual, toma as decisões de acordo com seus interesses, que podem atender o bem comum, ou não. Mas antes, considerar-se que uma caminhada política pelas ruas com fala aos populares, ou uma carreata, não é um pensamento em torno do bem comum, mas é uma ação política. O que se torna muito difícil não tecer críticas ao governo. A crise epidêmica, além da saúde, é também   uma crise de gestão. A premissa é evidenciada nas falas do Ministério da Saúde, quando reflete o problema da ocupação de leitos de UTI, daí a necessidade do #fiqueemcasa. Então afirmamos com certa segurança, é uma crise de gestão. Muitos dos filmes de catástrofes que vemos, o final é sempre marcado por ações de solidariedade. O 2012, termina com um discurso d...

COMO SER RESISTÊNCIA EM TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL?

As leituras de Giorgio Agamben, Byong-Chul Han e outros pensadores, feitas nos últimos dias, me fazem pensar sobre a necessidade de ser resistência diante do contexto atual. Aqui não falo em resistência como revolução armada, mas a formação de ideais que possibilitem uma reflexão diante de tantas “verdades” que consumimos, sem ao menos questionar. Resistir a ideias como, “a economia vai quebrar”, ou ainda, “enfrentaremos uma crise sem precedentes”. Como resistir ao discurso midiático envolvido de projetos políticos? A primeira resistência deveria passar pela aceitação que o COVID19 não nos tornou todos iguais. Vamos nos unir, branda o âncora mais inflamado do jornalismo popularesco. Unir para? Manter um sistema desigual que sustenta uma reserva de mercado formado por dois dígitos percentuais de desempregados no Brasil? Ou para justificar uma desconcentração de renda onde a minoria bilionária é superior à maioria pobre? Este mundo é aquele onde 26 indivíduos que possuem ao menos 1 bil...

JORGINHO MELLO PROTEGE OS RICOS E SOBRECARREGA OS POBRES

O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), anunciou que não implementará a cobrança de IPVA para embarcações e aeronaves no estado até que uma Lei Complementar Federal regule o tema. A justificativa? Supostamente, garantir “clareza e segurança jurídica” e apoiar os setores náutico e aéreo. No entanto, essa decisão escancara o abismo social que cresce a cada dia em Santa Catarina. Barcos e aviões são bens de alto valor que pertencem, em sua maioria, a uma parcela muito pequena e abastada da população. Enquanto isso, os trabalhadores comuns são obrigados a pagar IPVA por seus carros, motos e caminhões, usados para trabalhar e garantir seu sustento. Para piorar, Santa Catarina apresenta um crescimento significativo no número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. Dados recentes do IBGE apontam que o estado, antes considerado referência em qualidade de vida, registrou um aumento de 15% no número de pessoas vivendo em favelas nos últimos anos. Entre 2020 e 2023, o núme...

SEU COMUNISTA DE M3RD4

 Em outras leituras digitais possíveis, dediquei-me a olhar algumas caixas de comentários. Coisa que raramente faço. Estava numa página que comentava a inauguração da CNN Brasil. Na caixa, um espectador mais exaltado, classificava o canal como “Comunista de Merda”, como se isto não bastasse, nomeava a CNN, significava Comunist News Network. Em que momento da história, “comunista” passou a designar um xingamento? Pensando os anos de 1920, aqui no Brasil, o PCB, criado em 1922, foi levado a clandestinidade tempos depois. Entretanto, antes disso, em 1907, a Lei Adolpho Gordo autoriza a expulsão de estrangeiros perigosos para a ordem social nacional. O longa-metragem “Olga” evidencia muito bem, como as primeiras décadas no século passado, houve uma perseguição desumana aos comunistas e anarquistas. Ao ver o uso de comunista como “xingamento” sinto uma profunda pena pela ignorância alheia. Pena pelo desconhecimento, e pela forma como aquele sujeito é conduzido. Semelhante a uma peça...

QUANDO A RELIGIOSIDADE MATA A DEMOCRACIA

 Quando a Bíblia é colocada no centro de um país, anunciamos a chegada de uma grande ditadura. O fenômeno religioso e a expressão política, deveriam caminhar em esferas separadas. A história do tempo passado já nos mostrou isso. Enquanto nos últimos meses, aqui no Brasil, especialmente, vimos uma mostra, do quanto perigoso é a união de elementos religiosos e políticos. O perigo não está na vivência de uma religiosidade, mas pela incapacidade de leitura destes falsos profetas que se vestem de políticos. Interpretam a Bíblia de modo errôneo, criam demônios e desconsideram a sabedoria ciência humana. Nesta barca temos o conjunto do (des)governo brasileiro, os líderes do golpe boliviano, os colombianos que implodiram o processo de paz, os ativistas venezuelanos e a turminha de Trump. Todos são loucos na interpretação, mas conscientes em matar a democracia. Usam a Bíblia e justificam sua insana leitura como obra divina. Entre os crimes que comentem, usam abertamente o discurso de ódio...

COMENTÁRIO DE "DEMOCRACIA EM VERTIGEM"

 O Oscar não preparado para receber o documentário de Petra Costa. Democracia em Vertigem relata, pela ótica de Petra, a ascensão e queda do grupo político do PT. Não faz nenhum sentido critica o viés político do documentário, todos possuem um direcionamento e fim. Não há discurso “puro” ou inocente. Mas pela segunda visualização quero destacar três pontos, a não-linearidade; os longos minutos de silêncio e a escolha política. Penso que a passagem pelos três pontos nos indiquem porque o Oscar ainda não estará pronto para receber e aclamar um documentário político brasileiro crítico ao golpe-16. O documentário se propõe contar a ascensão e queda da democracia brasileira. Recortes e escolhas factuais são necessárias, mas elementos importantes ficaram de fora, que poderiam ser melhor apresentadas. Por exemplo, o governo FHC. Muito do sucesso do primeiro Lula, se dá pela onda de estabilidade criada por ele. E outra coisa que me incomoda, a direita não ascendeu com o Bolsonaro, ela s...

CRÍTICA AO FILME "O IRLANDÊS"

O Irlandês ( The Irishman , EUA, 2019), será considerado um clássico do cinema, há ótimos elementos. Um filme para estar no arquivo de qualquer cinéfilo. Alcança sucesso, mesmo com estreia limitada no cinema, por conta de seu contrato de distribuição com Netflix. O filme tem por base o livro “The Irishman: sheeeran and closing the case on Jimmy Hoffa”. É uma autonarrativa de Frank Sheeran, veterano de guerra, que se torna um assassino de aluguel da máfia, apresentando uma crônica de velhos mafiosos rabugentos. Recebeu prêmio de melhor filme no New York Cirtics Award e foi indicado para o Globo de Ouro, preterido por “1917”. O que me cansou no filme foi o tempo, são quase 3 horas e meia de história. Para uma plataforma streaming, é um bom desafio, para a TV, só com alguns cortes. O filme fala da morte. Ela tem um “punhado” de perspectivas. Brinca com a morte por meio de uma narrativa bem-humorada. Os “mocinhos” do filme, são mafiosos. Controlam o sindicato, se envolvem nos bastidores ...

ANÁLISE DO FILME UMA GUERRA PESSOAL

 A private war (EUA; Inglaterra – 2018) mostra a história da repórter de guerra Marie Colvin a partir do momento que ela perde a visão no olho esquerdo em 2001 no Sri Lanka até sua morte em Homs, Síria em 2012. Colaborou por anos ao The Sunday Times. Poucos dias antes da morte, Colvin escreveu, “cobrir uma guerra significa ir a locais destroçados pelo caos, destruição e morte, e tentar dar testemunho.” Obstinada em apresentar ao mundo os horrores da guerra, é um ótimo filme para vermos em dias sombrios onde Estados Unidos e Irã ameaçam a vida humana. Após o filme, garimpei na internet alguns textos de Marie Colvin, e não há como ficar indiferente diante da leitura. Comove e nos faz pensar que jamais houve e nunca haverá beleza na guerra. O longa-metragem, como tantos outros, trata o idealista como uma pessoa estranha. Alheia aquilo que o cotidiano naturaliza. Colvin é uma inconformada que acredita piamente no que faz. Crer, não para pensar em louros e dinheiro, mas para promover ...

BEATRIZ UM FILME

 Um drama romântico. O filme é datado de 2015, mas só tive a oportunidade de vê-lo nesta semana. A sequência das ações o deixou um pouco cansativo. Vai e vem e parece não desenvolver a histórica. O filme trata da angústia existencial de um casal, Marcelo, um jovem escritor/jornalista em crise durante a produção de seu mais novo livro, e Beatriz, advogada, que larga sua carreira no Rio para acompanhar o marido em Lisboa. Ela vive paixões e experiência sexuais que desafiam a moralidade. O demorar do desenvolver da história nos faz buscar analogias e forçar interpretações com tudo o que compõe a tela. A angústia de Marcelo é transportada para o espectador. Beatriz se envolve com o enredo do livro. Ao descobrir o teor sexual e a sexualidade que acontece nas páginas, ela visa vivenciar elementos que permitam Marcelo escrever, mas ao longo dos fatos, Beatriz, na busca de si pelo prazer, perde-se. As falas, soltas, faz pensar. Logo nos primeiros minutos, entre uma cena e outra, Beatriz ...

A RESPONSABILIDADE DE CATIVAR

 "Você é responsável pelo amor que desperta no outro?"   O Pequeno Príncipe , uma obra de Antoine de Saint-Exupéry, oferece uma profunda reflexão sobre a importância de cuidar do outro e a responsabilidade que carregamos pelos sentimentos que despertamos. Já escrevi o contrário tentando preservar o eu, mas como lembra Aristóteles, vivemos com o outro. A frase “ somos responsáveis por aquilo que cativamos ” resume essa ideia, mostrando que o ato de cativar, de criar laços afetivos, nos coloca numa posição de cuidado e atenção em relação ao outro. É muito triste despertar o amor e não cativar. Chega a uma covardia.   Cativar significa “criar laços”, estabelecendo uma conexão única e singular com o outro. Essa conexão, porém, não pode ser apenas um benefício unilateral. Cativarei o outro para usar dele durante um tempo. Ao cativar alguém, nos tornamos responsáveis por essa pessoa, por seus sentimentos e pelo seu bem-estar. Há uma responsabilidade ética sobre os envolvido...

BACURAU E A VIDA NUA

 Em Agambem, de certa forma, a filosofia da vida é esquadrinhada como uma filosofia que vem. A vida é dada a partir de um projeto político. Há conceitos que envolvem a vida para além dos aspectos biológicos,  o que se considerar o político, como dito, e o teológico. Para o pensador italiano, “a vida nua a que o homem foi reduzido, não exige, nem se adapta a nada: ela própria é a única norma, é absolutamente imante”. Nela, concretiza-se um jogo de produção humana através da oposição homem/animal, eis o que elucida o mecanismo de captura da vida nua pelo biopoder. Nesta perspectiva é operado sobre o ser humano um jogo de exclusão e inclusão. Isolado da vida nua, o ser humano é apenas atual, deixa de vivenciar uma perspectiva virtual, perde sua potência de vir-a-ser, ele apenas é. Aquilo que uma vida pode ser, deixa de existir. Ontem participei de um evento acadêmico, onde assistimos e discutimos Bacurau. Calei-me no debate. Habitava um sentimento difuso, semelhante ao que sent...

FÉLIX GUATTARI ENTREVISTA LULA

  Félix Guattari entrevista Lula, de 1982. O texto foi escrito no contexto pré-eleição de 1982, ainda sob a desgraça da ditadura militar. Nela, o então líder sindical, de uma lucidez fantástica, apontou alguns problemas de ordem social. A desigualdade como produto do capitalismo (ainda não se falava em neoliberalismo); o centralismo do PMDB (hoje MDB) em criar alianças para estender seus tentáculos no poder (o grande problema é um governo para o partido e não para a nação) e como estas alianças poderiam chegar ao PT, e ainda, a ausência de uma reflexão de classe por parte do proletariado.  Um texto distante 37 anos, mas de uma atualidade assustadora. Os mesmos problemas sociais estão alinhados uma política exploratória de hoje. Nesta leitura há um agravante, experimentamos o estado de bem-estar social com o pleno emprego; aumento salarial das classes mais pobres; a passagem da crise de 2008 de maneira sutil, o surgimento de uma classe média com maior poder de compra, a diminui...

CRÍTICA AO FILME "CORINGA"

  Alerta de Spoiler. Esta postagem contêm revelações sobre o enredo. Gosto de filme de ficção. Eles são interessantes para apresentar uma leitura da realidade com elementos meta-verdadeiros. Hoje, acompanhei o filme “Coringa”. Ele serviu para responder questões da ficção e problematizar a realidade. Então, primeiro a ficção. O filósofo americano Matt Moris, no livro Os Super-heróis e a filosofia questiona se o herói existe devido ao vilão ou o vilão existe por conta da existência do heroísmo. Um embate para determinar a validade moral do herói. O Coringa de Todd Phillips deixa clara que o violão é anterior a figura do herói. O palhaço psicótico de Gotham, é anterior ao Batman. E suas ações e as consequências é trazem luz à tragédia da origem de Batman. Fui ao cinema esperando encontrar um enredo de aventura, mas deparei-me com um trailer psicológico profundamente depressivo. O contexto de abalo, violência, percas e o mais informe, o desprezo do Estado pelo Arthur (Joaquim Phoeni...